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sábado, fevereiro 15, 2014

Análise: Noctis IV

Analisado por InfamyKing
Fecha os olhos…

     Noctis IV é um space exploration simulator desenvolvido por Alessandro Ghignola, lançado no final de 2003. No entanto, dizer que Noctis é um simulador seria o mesmo que dizer que Transformers 3 é arte. Existem elementos de simulação mas não muitos. Noctis não é sequer bem um jogo… é muito mais uma experiência. Uma experiência etérea.


Imagina um mundo…

     Tendo em consideração que este jogo não possui qualquer tipo de enredo, existe uma backstory incrivelmente rica. Tu jogas como um Felisian, uma espécie de criaturas parecidas com gatos, cuja história completa se encontra descrita no manual do jogo. Mais especificamente até, tu és um “Stardrifter”, um indivíduo responsável pela exploração e catalogação da galáxia que estes seres habitam… mas nalgum momento no passado, tu e os teus compatriotas Stardrifters decidiram voltar a casa e o que encontraram não era nada mais do que ruínas. Aparentemente, todos os outros Felisians abandonaram o seu planeta natal sem deixar rasto. Sozinhos e sem mais nenhum local para onde irem, vocês simplesmente decidem continuar com a vossa missão original.
     Na minha opinião, saber que os Stardrifters são uns dos últimos elementos da única raça de seres inteligentes da galáxia leva-me a aproveitar o jogo de uma forma ligeiramente diferente. Dá-me uma espécie de propósito, continuar com a missão que me incumbida há um tempo indeterminado atrás, embora para mim querer simplesmente saciar a minha curiosidade, saber o que há na próxima estrela já seja motivo suficiente para me levar a continuar esta busca interminável.


O universo nas tuas mãos…

     Como já foi dito, o jogo mete-te no corpo de um Stardrifter, o qual podes controlar com o rato. Tenho que admitir que os controlos são um pouco estranhos ao início mas nada a que não te habitues depois de algum tempo. Inicias o jogo na tua nave espacial rodeado pelas estrelas que constituem a galáxia dos Felisians. A partir daí, a galáxia, e tudo o que a compõe, é teu. Tenho a dizer que a maior parte do teu tempo vai ser passado a deleitares-te com a exploração das estrelas, planetas e luas que constituem um universo de tamanho realístico gerado processualmente. Não existem quaisquer limites ou consequências, com a exceção de poderes ficar sem combustível. Mas, mesmo assim, basta-te enviar um pedido de socorro e, eventualmente, um outro Stardrifter virá reabastecer-te com algum combustível. Como o jogo é completamente single-player, esta também é a única maneira de teres contacto com qualquer outro ser vivo, para além da vida selvagem que encontrarás na superfície de alguns dos planetas que resolveres visitar. Como tal… não existem desafios. Não há qualquer tipo de objetivo. Apenas existe a exploração interminável de uma galáxia e uma base de dados comum a partir da qual podes partilhar as tuas descobertas com outros Stardrifters (sendo estes últimos dos quais estou a falar outros jogadores). Sim, porque embora este seja um jogo single-player, não estás totalmente sozinho… tens a enorme base de dados de descobertas da galáxia realizadas por parte de outros jogadores de Noctis (que é atualizada de tempos a tempos). Tu também podes modificar esta base de dados, dando catalogando as estrelas e planetas que vais encontrando e visitando. Eu, por acaso, dou bastante valor a este pequeno elemento de gameplay, porque contribui ainda mais para o sentimento de ser um explorador, a descobrir algo que nunca antes foi visto por ninguém. Esta é também uma forma de as tuas ações terem um significado, ao poderes compartilhar as tuas descobertas com a comunidade e contribuíres para a catalogação de universo inteiro.


O silêncio da noite preenche a tua alma…

     Do ponto de vista gráfico, este é um dos jogos com a mais baixa resolução que eu já vi. Quando estás na superfície de um planeta, tudo o que está a mais de uns poucos metros vira uma polpa pixelada. Na tua nave espacial, tens muita dificuldade em decifrar as letras no painel principal a não ser que espetes a tua cara no ecrã. No entanto, resolução à parte, Noctis é de tirar o folgo. Até bastante mais do que isso, sinceramente. Este é capaz de ser um dos jogos mais bonitos que eu alguma vez joguei, à sua maneira desfocada e pixelada. Está tudo na atmosfera… o sentimento de solidão que nos invade perante o vazio do espaço, tudo sem nunca se tornar minimamente pessimista. Lembras-te do que eu te disse no primeiro parágrafo? Noctis é um jogo etéreo. Ele invoca um sentimento de maravilha, ao mesmo tempo que nos faz sentir incrivelmente vulneráveis. Tu sentes isso quando desligas as luzes da tua nave e a vez somente iluminada pela luz da estrela mais próxima. Tu sentes isso quando estás na superfície de uma lua, cinzenta e estéril, e olhas para cima para o interminável vazio de estrelas. Tu sentes isso quando estás a orbitar um planeta, a admirar a sua geografia e à procura de local para aterrar. Tu sentes isso quando trepas para o topo da tua nave enquanto ela viaja à velocidade da luz e vez o teu destino a crescer de um pequeno ponto brilhante no céu para um sistema solar cheio de planetas, gigantes gasosos e luas, todos completamente diferentes uns dos outros. Muitos jogos conseguem render o espaço com gráficos e efeitos muito melhores do que Noctis. Mas poucos universos podem reclamar para si o sentimento de verisimilitude que preenche Noctis, e muito disso provém de todo o seu visual.
     Honestamente, algum deste sentimento também se deve ao trabalho de som. Porque não há som. Noctis é um jogo completamente silencioso, e isto apenas serve para elevar ainda mais a atmosfera.


Sonha com o intangível e o maravilhoso…

     Por todas estas razões, Noctis não é um jogo que vai agradar a toda a gente. Se tu achas que um jogo tem de ter objetivos bem definidos, este jogo não é para ti. Se tu achas que um jogo tem de ter ação e uma gameplay que te está constantemente a desafiar, este jogo não é para ti. Se tu achas que um jogo tem de ter uma narrativa, este jogo não é para ti. Se tu achas que 800x600 é uma resolução baixa, este jogo não é para ti. E se tu não tiveres alma, este jogo não é para ti. Mas se tu tiveres uma mente aberta e estiveres à procura de uma experiência etérea, divinal, mágica, então este jogo é para ti. Noctis IV é definitivamente um jogo diferente de todos os outros e é provavelmente o mais próximo que qualquer um de nós estará do verdadeiro sentimento de maravilha que envolve a exploração espacial.


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