Análise: Noctis IV
Analisado
por InfamyKing
Fecha os olhos…
Noctis IV é um space exploration
simulator desenvolvido por Alessandro Ghignola, lançado no final de 2003.
No entanto, dizer que Noctis é um simulador seria o mesmo que dizer que
Transformers 3 é arte. Existem elementos de simulação mas não muitos. Noctis
não é sequer bem um jogo… é muito mais uma experiência. Uma experiência etérea.
Imagina um mundo…
Tendo em consideração que este jogo não possui qualquer tipo de enredo,
existe uma backstory incrivelmente
rica. Tu jogas como um Felisian, uma
espécie de criaturas parecidas com gatos, cuja história completa se encontra
descrita no manual do jogo. Mais especificamente até, tu és um “Stardrifter”,
um indivíduo responsável pela exploração e catalogação da galáxia que estes
seres habitam… mas nalgum momento no passado, tu e os teus compatriotas Stardrifters decidiram voltar a casa e o
que encontraram não era nada mais do que ruínas. Aparentemente, todos os outros
Felisians abandonaram o seu planeta natal
sem deixar rasto. Sozinhos e sem mais nenhum local para onde irem, vocês
simplesmente decidem continuar com a vossa missão original.
Na minha opinião, saber que os Stardrifters
são uns dos últimos elementos da única raça de seres inteligentes da galáxia
leva-me a aproveitar o jogo de uma forma ligeiramente diferente. Dá-me uma
espécie de propósito, continuar com a missão que me incumbida há um tempo
indeterminado atrás, embora para mim querer simplesmente saciar a minha
curiosidade, saber o que há na próxima estrela já seja motivo suficiente para
me levar a continuar esta busca interminável.
O universo nas tuas mãos…
Como já foi dito, o jogo mete-te no corpo de um Stardrifter, o qual podes controlar com o rato. Tenho que admitir
que os controlos são um pouco estranhos ao início mas nada a que não te
habitues depois de algum tempo. Inicias o jogo na tua nave espacial rodeado pelas
estrelas que constituem a galáxia dos Felisians.
A partir daí, a galáxia, e tudo o que a compõe, é teu. Tenho a dizer que a
maior parte do teu tempo vai ser passado a deleitares-te com a exploração das
estrelas, planetas e luas que constituem um universo de tamanho realístico
gerado processualmente. Não existem quaisquer limites ou consequências, com a
exceção de poderes ficar sem combustível. Mas, mesmo assim, basta-te enviar um
pedido de socorro e, eventualmente, um outro Stardrifter virá reabastecer-te com algum combustível. Como o jogo
é completamente single-player, esta
também é a única maneira de teres contacto com qualquer outro ser vivo, para
além da vida selvagem que encontrarás na superfície de alguns dos planetas que
resolveres visitar. Como tal… não existem desafios. Não há qualquer tipo de
objetivo. Apenas existe a exploração interminável de uma galáxia e uma base de
dados comum a partir da qual podes partilhar as tuas descobertas com outros Stardrifters (sendo estes últimos dos
quais estou a falar outros jogadores). Sim, porque embora este seja um jogo single-player, não estás totalmente
sozinho… tens a enorme base de dados de descobertas da galáxia realizadas por
parte de outros jogadores de Noctis (que é atualizada de tempos a tempos). Tu
também podes modificar esta base de dados, dando catalogando as estrelas e
planetas que vais encontrando e visitando. Eu, por acaso, dou bastante valor a
este pequeno elemento de gameplay,
porque contribui ainda mais para o sentimento de ser um explorador, a descobrir
algo que nunca antes foi visto por ninguém. Esta é também uma forma de as tuas
ações terem um significado, ao poderes compartilhar as tuas descobertas com a
comunidade e contribuíres para a catalogação de universo inteiro.
O silêncio da noite preenche a tua alma…
Do ponto de vista gráfico, este é um dos jogos com a mais baixa resolução
que eu já vi. Quando estás na superfície de um planeta, tudo o que está a mais
de uns poucos metros vira uma polpa pixelada. Na tua nave espacial, tens muita
dificuldade em decifrar as letras no painel principal a não ser que espetes a
tua cara no ecrã. No entanto, resolução à parte, Noctis é de tirar o folgo. Até
bastante mais do que isso, sinceramente. Este é capaz de ser um dos jogos mais
bonitos que eu alguma vez joguei, à sua maneira desfocada e pixelada. Está tudo
na atmosfera… o sentimento de solidão que nos invade perante o vazio do espaço,
tudo sem nunca se tornar minimamente pessimista. Lembras-te do que eu te disse
no primeiro parágrafo? Noctis é um jogo etéreo. Ele invoca um sentimento de
maravilha, ao mesmo tempo que nos faz sentir incrivelmente vulneráveis. Tu
sentes isso quando desligas as luzes da tua nave e a vez somente iluminada pela
luz da estrela mais próxima. Tu sentes isso quando estás na superfície de uma
lua, cinzenta e estéril, e olhas para cima para o interminável vazio de
estrelas. Tu sentes isso quando estás a orbitar um planeta, a admirar a sua
geografia e à procura de local para aterrar. Tu sentes isso quando trepas para
o topo da tua nave enquanto ela viaja à velocidade da luz e vez o teu destino a
crescer de um pequeno ponto brilhante no céu para um sistema solar cheio de
planetas, gigantes gasosos e luas, todos completamente diferentes uns dos
outros. Muitos jogos conseguem render o espaço com gráficos e efeitos muito
melhores do que Noctis. Mas poucos universos podem reclamar para si o sentimento
de verisimilitude que preenche Noctis, e muito disso provém de todo o seu
visual.
Honestamente, algum deste sentimento também se deve ao trabalho de som.
Porque não há som. Noctis é um jogo completamente silencioso, e isto apenas
serve para elevar ainda mais a atmosfera.
Sonha com o intangível e o maravilhoso…
Por todas estas razões, Noctis não é um jogo que vai agradar a toda a
gente. Se tu achas que um jogo tem de ter objetivos bem definidos, este jogo
não é para ti. Se tu achas que um jogo tem de ter ação e uma gameplay que te está constantemente a
desafiar, este jogo não é para ti. Se tu achas que um jogo tem de ter uma
narrativa, este jogo não é para ti. Se tu achas que 800x600 é uma resolução
baixa, este jogo não é para ti. E se tu não tiveres alma, este jogo não é para
ti. Mas se tu tiveres uma mente aberta e estiveres à procura de uma experiência
etérea, divinal, mágica, então este jogo é para ti. Noctis IV é definitivamente
um jogo diferente de todos os outros e é provavelmente o mais próximo que
qualquer um de nós estará do verdadeiro sentimento de maravilha que envolve a
exploração espacial.
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